19 abril 2007

Espelho


Bem, sou cheio, apesar de ter apenas sessenta quilos em um metro e setenta de altura, sou cheio de atritos, conflitos, pecados. Antes inocência, mãos tranqüilas, olhos atentos, hoje me perco em casa, no quarto, na verdade me perco nos meus pensamentos. Me perco em mim mesmo.

Eu pulava, sorria, gritava. Hoje, frio, eu falo, eu choro, eu beijo, me apaixono. Meus pés pequenos, suaves gostavam de andar e gostam ainda hoje, mas não são mais pequenos e suaves, não são meus pés, são os pés desse jovem sério e distraído que olha pra mim atravéz do espelho. Não sei se sou ele, mas ele é eu.

18 abril 2007

Ecos da Agonia

Tenho um brilho sem luz.
A luz da minha vida
Se esconde, me preserva.
Fui ofuscado pela liberdade
E por tudo que me cerca.
Me esconder é mais fácil,
Mais cabível, aceitavel.
Sou tudo que não deveria ser,
Mas sou isto que todos querem ser.
A negra bolha que me ofusca
Nasceu comigo e eu aceitei.
O que sou agora tem mais força
Que a vil hipocrisia que me prende.
Meu refúgio desmorona,
Se abrindo, acabando...
As brechas são maiores, mais notáveis.
Sou frágil, sensível, vunerável...
Meus inimigos me invadem,
Querem me matar,
Ofuscando minha luz oculta.
Não suporto mais, vou explodir.
Expondo e espalhando,
Meu eu, minha luz, meu ser.
Um grito. Um suspiro. Liberdade.


11 abril 2007














Último Tango

Uma música. O tango.
Nossos olhos se descobrem.
Nossos lábios se encontram.
Nossos corpos... se inflamam.
Sedução.
___Possessão.
______Silêncio.
O pertubador silêncio dos nossos corpos
Que ensurdece minha alma.
Você...

___
Eu...
______Um, apenas.
Nós. O tango.
No horizonte, a dança do desejo.
A paixão.
___O pecado.
______O prazer...
Gemidos sussurrantes queimam minha pele.
A loucura. O orgasmo.
Eu...
___Você...
______Dois, agora.
Meu corpo se repousa sobre o teu.
Nossos olhos se fecham.
O tango acabou.

04 abril 2007


Mutação

Dispo-me de minhas vestes
Vãs, sujas, podres.
Vestes do espírito capitalista,
Violento e vil.
Nú. Fico nú, pois não
Ah, eu não sei
Vestir-me de outra forma.
Nú, caminho pela paisagem
cruel do "mundo-futuro".
Minhas vestes podres e vãs
A isto se misturaram.
São um só.
Sempre foram.
Vi que sempre estive nú.
Pois nunca cobri minha alma
De idéias minhas,
Vontades minhas,
Da vida minha.
Era ela coberta ou escondida(ofuscada)
Pelas idéias desse chão
Crú de belas mentiras
E pervesa doçura.
Me encontrei?
Me perdi?
Sou o que fiz!
Sou o que quiz!
Sou, agora, o nada nú
Neste "mundo-futuro",
Que tragou minhas vestes,
Que foi tudo que eu fui.
Vazio. Nada.

03 abril 2007

O Olhar da Noite

A lua cheia. Linda.
Hoje, tem a face da Morte.
Meu inevitável destino.
O dom do nascimento.
Assim como a noite
Espera a luz da manhã,
Eu espero Seu momento.
Mas Ela, gananciosa,
Me quer, me anseia.
Faminta de vida,
Observa-me à noite,
Todas as noites, pelas estrelas.
Mas hoje, a lua cheia é sombria
E me envolve, me atrai, me conduz.
Hoje o luar é o prelúdio
Do fim da fome da Morte.
Eu me esgoto. Fui tragado.
Então, o sol chega
E Ela dorme, saciada.